O encantamento tem um tempo, desnecessário será pensar que é infinito.
Só de loucos continuar a pensar que se sente amor por alguem, e a
utopia que é o amor?. Se tu fosses eu, e eu não tivesse alma e o meu
peito albergasse para sempre a mentira. Hei-de lutar eternamente pela
mentira mesmo que ela me abafe as veias, mesmo que deslize entre as
tuas palavras vazias, sem nexo.
Quero aproveitar o hoje colhendo rosas entre a minha nudez, o meu
prazer de ser mulher, deixarei de ser a bandeja de cristal onde deixas
os restos do teu prazer, os restos do teu orgasmo. Não sou
self-service de amantes, onde se escolhe os ingredientes para o
prazer, e se deixa os restos para a femea louca desvairada, devassa,
que ainda acredita que o amor existe e que o homem tem carinho entre
os dedos para espalhar em corpo de mulher. Quero ser a pétala, a voz
rouca do meu pensamento, quero ser a imagem de mulher feliz, sem ser
jogada em lençóis de cetim frios, amarrotados, duma noite de prazer,
quero mais, quero continuar a viver de ti e em ti, quero encontrar-te
noutro sol, noutro caminho de luz.
Este mundo onde bebo o vazio da minha história, ando perdida num sabor
amargo de ilusão.
As histórias gemem no frio das tuas mãos, quererás um dia adormecer
dentro de mim, mas lavei as palavras, e já nada me refresca a memória
para te querer, alguns sonhos adormecem neste cansaço que me invade
nesta luta por ti.
Na poeira dos teus olhos deslizará esta paixão feita de gemidos,
gestos, procura e tesão.
Sinto que gostas dos gestos frios, dos beijos inexistentes, dos sonhos
que tens e não vives, do gosto a sexo que não tens e nem desejas, do
beijo que desejas e não queres, és uma mentira. No silencio daquela
noite em que me amaste, os gestos eram a luz do orgasmo que viveste,
mas contornas demais a vida dos que nem sequer se lembram que existes,
e não consegues separar o prazer do medo.
Não sei quem és !!!!
Emolduras a minha vida, vives nos cantos do meu corpo, as paredes têm
o teu cheiro, a tua lingua passeia dentro de mim, mas não sei quem és.
Há uma força de mulher à solta dentro de mim que se reproduz em
prazer, feito ninho duma tesão que passeia em ar de festa e dá risadas
quando te vê ao longe diante de mim.
Não sei quem és!!!!!
Se tudo tivesse acontecido, ah! Se eu não sentisse o cansaço dos teus
desejos, a lembrança dos teus beijos que deixaste em mim, iluminas-me
os sentidos, aqueces-me com a tua tesão e cabes-me na medida exata,
mas a minha vergonha disolvesse na minha saliva e escrevo um poema nas
margens do teu corpo, mas não te conheço.
A minha nudez, um dia dizias que eu era o teu erotismo, e que a minha
pele era a carta de amor que nunca escreveste. Agora já não te apetece
escrever a carta porque a gaivota fugiu da tua gaiola, a minha pele já
não te cheira a cartas de amor. Porquê??O teu desejo guloso secou no
canto da tua boca e não olhas mais para o meu decote, que achavas tão
sexy...
Amália LOPES
Tarde de abril 2008